Meras Imagens...

Meras Imagens...
Karen Facchinetti

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A morte do sentir


Tudo o que é sólido se desmancha no ar, tudo o que é, já foi, tudo o que se sente tem um valor monetário e mascarado por valores morais e do ser. Marshall Bergman através de Marx faz um grande sentido hoje para mim ao trazer a discussão que atravessa épocas sobre um processo de “modernização” tão atual e tão presente em nossas vidas. Hoje, tudo se transforma em segundos, troca-se de roupas, de gostos, de valores e de amores no frenético ritmo dos meios de produção. Pois bem, o destino sabe o seu caminho. A um mês fui à Pinacoteca atraída pelo ar romântico e cultural que existe ali. Entrei sem grandes pretensões, mas embriagada pelo sentir, pela simples vontade de conhecer aquilo que para mim é uma grande felicidade. O espaço estava repleto de pessoas, muitas delas. Eu sei, talvez esta minha forma de me referir a elas, as pessoas que transitavam, seja uma maneira de me diferenciar, e seja lá isso mesmo.Vou me explicar.Em uma das áreas havia a exposição Tensão Sobre a Calma, de Arnaldo Pappalardo. Não me lembro bem agora quantas, mas estavam espalhadas imagens enormes de pontos da cidade de São Paulo, estas individuais em preto e branco deviam ter uns seis metros de altura. Lindíssimas, produziam uma certa agonia e solidão diante das noites de uma cidade adormecida. A impressão é que se podia participar daquela cena, o tamanho das imagens impressionava. E talvez seja essa uma das explicações para o que as pessoas faziam naquele momento.Muitas delas posavam ao lado das imagens para fotografias. Famílias paravam, amigos paravam, namorados paravam. Observei que não havia uma santa alma que se colocasse de frente as imagens, que respirasse por um segundo o entender de uma obra alma, além do que aquilo podia lhes entreter. Se não possível a observação, ao menos o sentir. E é nesse sentido que me refiro “aquelas pessoas”. Eu ali, frente aquela admirável dicotomia sentia-me diferente.A grande impressão que tinha daquilo tudo, é que aquele lugar não se tratava de um museu, mas sim de um parque de diversões. Que tirassem fotos, eu também gostaria de fazê-las, mas que não fosse o primordial. Também não coloco em questão a minha visão, pois ninguém é obrigado a tê-la, mas no mínimo sensibilidade e respeito.As pessoas estão esquecendo-se de sentir, de enxergar. Aposto que muitos baixaram sua fotos orgulhosos da bonita composição pela qual a obra permitia, uns abraçados e fazendo caretas, outros com seus filhos nos ombros, mas muitos sem entender ao menos o título. Sem o título, ao menos o sentir. Sei que não sou ninguém para julgar o sentimento alheio, mas se estivesse comigo saberia de qual semiótica aquilo se referia. E a leitura daqueles gestos não decodificavam nada além do entretenimento. Do ser através do ter. E diga-se a verdade, através da fotografia, da compulsão à felicidade, do atirar para eternizar, arrancar o que não se pode ter. E é nesse simples exemplo que se mostra exposta as duas faces da tecnologia e do sentir moderno pelo homem moderno. Um sentir que é ter, e um ter que se torna existir. Tudo ficou tão fácil e banal que máquinas são comuns, fotos são comuns, imagens são comuns, pessoas são comuns. Viver tornou-se um verdadeiro hábito, morrer uma grande diversão. Vamos pisar em tudo o que o que nos dê o sentir, matemos para sorrir, afinal a vida está um tédio, não é mesmo? Arte para quê?

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O Retrato da Coragem

coragem para confiar


coragem para participar

coragem para esperar


coragem para assumir


coragem para pedir


coragem para mudar...











domingo, 24 de agosto de 2008

Máscaras

O que mais me encanta ao fazer uma foto, é a possibilidade de tocar o mundo de outras pessoas e compreender suas realidades. Entrar em contato com o externo e trazer esses mundos para meu interior. É preciso muito mais que fazer um "click".
Fotografar alguém é como entrar num templo sagrado. Calam-se as vozes, silencia-se o caos, reverencia-se o divino, o mágico. Ali, olhos nos olhos, a alma ressurge desprovida de máscaras.

Ao meu amigo Wagner, o meu muito obrigada por confiar um pequeno fragmento de seus pensamentos e vivências! Por permitir que eu, fotógrafa e indivíduo, participasse através de imagens, de um mundo tão íntimo no qual o sofrimento explica a busca da felicidade.
















sexta-feira, 20 de junho de 2008

Trecho - Olhares fora-dentro

Estes dias vim folheando trechos do livro Fotografia e Antropologia – olhares fora-dentro de Rosane de Andrade. Um livro no qual me identifico muito quanto ao envolvimento do fotógrafo com aquilo que deseja fotografar. E hoje folheando alguns pensamentos nele contido, deparei-me com uma citação de um fotógrafo esloveno que perdeu a visão aos 11 anos de idade. Até hoje suas palavras e profundidade com que se relaciona com o mundo através dos sentidos me inspiram a enxergar e viver as imagens através de uma filosofia.Vale a pena ler este singelo e profundo pensamento.


“ Quando discernia ainda alguns bocados de luzes e de cores, estava feliz porque via ainda: guardo a lembrança viva desses momentos de adeuses ao mundo visível. Mas, a monocromia invadiu minha existência e devo fazer um esforço em conservar a paleta de nuanças, para que o mundo escape a monotonia e a transparência. Dou cores aos objetos, às pessoas que apreendo: conheço uma mulher cuja voz é ao azul que ela consegue colocar o azul sobre um dia que eu sei ser cinza de outono.Encontrei um pintor que tinha uma voz vermelho-escura, e o acaso quis que ele gostasse desta cor... O que vem ser portanto um olhar? É talvez a soma de todos os sonhos, cuja parte de pesadelo se esquece, quando a gente pode pôr-se a olhar diferentemente... “ (Evegen Bavcar)

terça-feira, 10 de junho de 2008

Buena Vibra

Veste uma renda, de um vermelho vibrante e escuro que eleva sua brandura. Contrasta com o algodão de uma pele que reluz, que ainda se protege e acostuma-se com o mundo que vê.
Sua blusa rendada cola-se ao seu corpinho miudo e traduz uma linhagem ritana que esconde um sangue borbulhante e quente que ainda não tem consciência.
Está só, numa solitude ancestral sem causa e efeito. Transpõe um tempo que julgo ser longo e regresso. Seus olhos projetam cenas antigas e de uma metáfora que transforma a atmosfera.
Seus pezinhos mal alcançam o chão. A desproporção da cena chama-me a atenção.
Com sues ombrinhos caídos permanece com a acbeça em direção ao céu num sorrir de alma, pois sua face é séria, sem desperdícios de sentimentos.
Parece apreciar as estrelas e num leve movimento de suas mãos acompanha uma música longingua, ao fundo, perdida em qualquer sombra daquela escuridão. Vem de uma vitrola que soa um tom rouco e nostálgico. Surpreendo-me com seus gestos.
Aqueles movimentos pequeninos, tão sutis e seguros reconhecem em cada toque o seu ritmo. É um tango.
Está descalça, lhe faz bem a sensação da ausência de amarras. Com certeza esquecera um belo par de chinelos em algum canto de suas travessuras inocentes.
Avista uma joaninha na pontinha de seu dedo. Contempla, enternece o semblante, sopra.
Pela primeira vez, percebe a minha presença. Sente-se confortável, nem um pouco intimidada. Olha-me sem piscar um instante, fita-me a alma através de um encontro óptico. Me assusto...
Meu Deus, é uma criança! Olha-me com ares de um encontro, fita-me como que num prenuncio, pensa pronunciar, cansa-se. Dança, ri, grita: Buena Vibra!
Sinos soam neste instante.
Pula daquele banco como quem pula das nuvens. Sonda, recua, persiste. Corre por detrás dos postes, ilumina-se através dos lampeões.
Eu, intacta, imóvel. Canto, rio , danço...
Avisto esquecido no banco uma geometria agora reconhecida.
Sento, pés sobre o chão, olhar ao céu, ombros caídos, embriago-me daquela música. permaneço horas num sorrir de alma. Aperto contra o peito um disco de Carlos Gardel. É tudo o que tenho.
Sinto tudo outra vez.
Não sei até quando permanecerei aqui...

domingo, 1 de junho de 2008

Pensamentos Noturnos...


02h00 da madrugada. Aqui ainda é claro... O relógio insiste e me diz que logo irei trabalhar.
Não pretendo expulsar o sol agora, deixo ele ficar só mais cinco minutos.
Pensamentos noturnos são claros e este sol não se cala. Se não quer ir que sorria, não afugento o que é divino. Aproveito as horas concedidas para fussar uma câmera escura interior.
Claro e escuro contrastam nesta noite que não se apaga. Só mais um minuto e eu levanto daqui.
Meus devaneios já passaram da hora...



Banalização do ver.

Para muitas pessoas a fotografia é algo comum, que define um ritual familiar de identificação ou mesmo de afirmação. Claro que essas definições existem e são inerentes ao surgimento da foto. Mas também é real que hoje a fotografia passa por um forte processo de banalização que vem crescendo dentro da cultura da imagem e reforçado por aparelhos ideológicos no decorrer dos anos.Claro que é preciso e é até mesmo enriquecedor alimentar interesse pela tecnologia que nos traz formas cada vez mais avançadas de capturar as imagens. O que me intriga é a forma desvairada, frenética e comum de” ver” essas imagens no atual momento.A idéia absurda de que um fotógrafo seja reconhecido pelo equipamento que tem me traz certo incomodo. Talvez para muitos seja um pensamento pequeno e de uma fotógrafa que mal saiu das fraudas. Mas me incomoda muito desvalorização dessa arte. Quando realmente é arte.É como se ter uma máquina digital fosse melhor que ter um equipamento analógico, como se as imagens digitalizadas fossem estupidamente melhores em resolução simplesmente por serem geradas em equipamentos de última geração. Não há aqui crítica alguma sobre esta forma de tecnologia, mesmo porque vem facilitando minha vida profissionalmente, uma forma de adaptação ao mercado também.Mas no meio desse bombardeio de megapixeis, ainda preservo minhas películas. Não abandono meus filmes por nada.Não vou dizer que tenho usado absurdamente como antes, seria uma mentira, mas ainda quero registrar concretamente meus ensaios e testar o conhecimento, o raciocínio e ter a surpresa da revelação. Quero ter o pensamento da iluminação ativa.Outro dia procurando um curso de fotografia me deparei com grades curriculares de desanimar. Entre tantas coisas a se aprender não encontrei o mais importante: Revelação em preto e branco. Como não é possível encontrar tal matéria! Ali, no momento de um entrosamento químico, entre quarto escuro, meia luz e muita paciência é que podia se aprender na raça as escalas do mundo, dos tons...O que eu quero dizer com isso, é que as pessoas vão se utilizando cada vez mais da tecnologia que lhes é enfiada pelas propagandas , achando que têm nas mão os melhores recursos, o que não é verdade e quando as tem não estão preparadas para utilizar com seu rigor e criatividade, achando que não precisam de mais nada e mais ninguém .A questão também não é essa, todo ser humano é capacitado em sua forma de pensar, mas assim como os médicos têm nas mãos ferramentas e conhecimento específico para salvar vidas quando Deus lhe permite, além claro, de um dom, o fotógrafo carrega no olhar, na percepção, na alquimia de registrar o mundo e de captar a luz, conhecimento e ferramentaspara traduzir esse mundo através de uma estética e o mais importante, de um sentir.Quando enquadro uma imagem e disparo o obturador, algo é transformado em mim, algo se transforma de dentro para fora e volta ao meu mundo. Não deixo de sentir o momento, ao contrário, utilizo da lente para como relação do sentir e de existência na sociedade.Mas enxerg o que muitas pessoas estão preocupadas em capturar almas o tempo todo, esquecem de sentir o momento e feito loucas disparam algo que nem sabem o quê. Quando não sabem o que lhes acontece em seu interior, atiram, se não conseguem chorar, atiram, se estão felizes, atiram, mas não sabem definir seus sentimentos....Perdem o exato momento do sentir quando tentam a todo o instante roubar imagens para serem alguém, através do ter, do ter e do ter...Sei que o reflexo da sociedade em que vivemos hoje não aliviaria o mundo da fotografia numa filosofia globalizada em que pensamos ter tudo, na qual aglomeramos quinquilharias de países que nos exploram para nos sentirmos felizes e dignos em nossa existência, porque na verdade somos usados, passados para trás, sem saúde, sem educação e sem direito à informações de formação crítica.Enquanto isso, carregaremos televisões , computadores e máquinas fotográficas na palma de nossas mãos, capturando e atirando no mundo para que ele não nos engula de vez. Não me esqueço nunca de um ex chefe que me dizia, passe todas suas idéias para o papel, depois se utilize do computador. E ele estava e está certo!
Nada substitui o homem e o homem é feito de sentimentos!Máquinas são a nossa extensão.Talvez eu seja romântica demais, mas assim como as palavras trazem sua força, as imagens transparecem o que temos na alma. Me entristece o mau uso delas...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Há outras coisas no caminho aonde vou...

Não vou viver, como alguém que só espera um novo amor, Há outras coisas no caminho aonde eu vou. As vezes ando só, trocando passos com a solidão.Momentos que são meus e que não abro mão. Já sei olhar o rio por onde a vida passa. Sem me precipitar e nem perder a hora. Escuto no silêncio que há em mim e basta. Outro tempo começou pra mim agora. Vou deixar a rua me levar. Ver a cidade se acender. A lua vai banhar esse lugar. E eu vou lembrar você. É... mas tenho ainda muita coisa pra arrumar. Promessas que me fiz e que ainda não cumpri.Palavras me aguardam o tempo exato pra falar. Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir...

























































































































terça-feira, 6 de maio de 2008

Texto dos meus dias.

Estou apaixonada pelo texto que posso ser. Afirmo o ponto que uso , me prolongo na reticências que sou. Mas não quero minha vida num parênteses qualquer.
Posso ser todo dia aquilo que sinto , ponto . vírgula, exclamação.
Das palavras posso derramar lágrimas ou da entonação retirar um sorriso.Dos dois juntos então!
Me faz bem extravasar o alfabeto que há em mim. Só não sei com que letra começo... Talvez o A seja a melhor direção...
No livro que minha vida segue, rabisco aquilo que já é traço. E como deve terminar um texto?
Todos os dias escorrego e tropeço em palavras, todos os dias elas me entorpecem!
É um vício, um hábito, uma loucura que se renova em mim.
Letra a letra, sílaba a sílaba eu teço o fio do momento, do passado, do destino. Eu mexo no universo, porque as palavras tem essa força. Acredito assim.
As vezes as palavras me escapam, soltam -se, são atiradas do pensamento, sem pensamento.
Fogem de mim quando não as quero. Correm pelos braços, se atiram da minha boca, saltam do meu olhar... um movimento e pronto .. palavras...
As vezes, alguém as toma de mim. Não pedem licença, arrancam a fórceps aquilo que é gerado em silêncio.
Mal sabem que este silêncio grita! Por que o branco não é a ausência de luz...
Que me batam, que indiquem o verbo e o adjetivo mais torpe e sem escrupulos para mentir na frase mais doce...
Digo apenas o que acredito... e quando não digo acredito também.
Minhas 27 páginas são brancas... não há tinta, não há relato em cor azul, preta ou de qualquer tipo. Há cores imaginaveis, profundas e cheias de luz. Mas não há uma gota de tinta em meu texto... há um quê de mistério. O olhar de monalisa redige o que pretendo esconder...
Sou cristal que reflete, mas não quebra.
Sou pena que balança, mas escreve.
Redijo textos interminaveis nas imagens que crio. Recrio, indico, transformo. Que transformem em mim, através de mim.
Escrevo texos, escrevo imagens, escrevo gestos, escrevo gostos. Escrevo tudo o que é escrito e tudo o que não é dito.
Corro através de um vocabulário interminável de pensamentos indiciais que se renovam nas idéias e seguem um ciclo. Começo tudo de novo, por que posso voltar atrás com as palavras. Por que as mesmas são flexíveis e ao mesmo tempo podem ser duras.
Uma vez dita está escrita. Mas volta-se atrás...
Qual o tamanho do EU TE AMO? Isso escreve-se para sempre. Pois ama-se para sempre.
Sem percebermos as palavras voam no ar, aquelas que não temos consciência, aquelas que já esquecemos, aquelas que pretendemos disseminar... todas juntam-se num certo espaço, no universo e fazem parte de uma história, a história do ser humano. Estão ali, marcadas, dançando ao vento, loucas, roucas e surdas.
Palavras que não voltam, que seguem e que ficam, palavras que compõe a página de um livro. O livro indivíduo.
Dou o tamanho ideal às palavras que escolho, sou do tamanho que elas me ocorrem.
As vezes romance, as vezes crônica, notas ou artigos.
Não importa a ordem, ainda as termino ...







sexta-feira, 2 de maio de 2008

Café morno é café frio...

- Meu amor, senta aí, fica tranqüilo, vou pegar um café.
- Eu não quero café, obrigada.
- Sente. Descanse um pouco, você está cansado.
- Eu não estou cansado e não quero café.
- Fique tranqüilo, você está um pouco confuso, a correria da semana e dos dias de trabalho nos deixam assim mesmo, vou fazer um chocolate.
- Eu não quero chocolate e não estou confuso!
- Não fique nervoso, eu estou aqui e você pode sempre contar comigo! Olha, amanhã passaremos o dia limpando o seu carro e depois iremos o final de semana na sua mãe, desmarcamos nosso jantar, nosso programa, você pode aproveitar o dia e pronto, decidido.
- Não quero nada disso, se você olhasse além de você, veria o que realmente quero.
- E o que você quer?
- Não quero café...
- Então quer chocolate?
- Não! Por Deus...
- Você quer um calmante?
- O que há com você?! Não enxerga?
- Sim. Eu te amo...
Silêncio
- Preciso ir...
- Está bem , te espero aqui.
- Não sei se volto.
- Está certo, mas não demore...
- E se eu demorar?
- O café irá esfriar...

domingo, 27 de abril de 2008

Virada Cultural: " Uma grande desculpa esfarrapada..."

"Isso tudo é uma grande desculpa esfarrapada pra que um monte de gente rara pudesse se encontrar..." (Teatro Mágico).

Virada Cultural, 27 de abril., dia de sol, dia de paz nesse grande coração de pedra.Olhando para o relógio vi que estava atrasada. O show do Teatro Mágico já havia começado e eu podia imaginar as músicas, cantando em pensamento. Mas fui caminhando devagar conversando com pessoas que nunca tinha visto , havia mágica no ar. Quem diria, domingo de poesia na São João. Era possível caminhar no meio das ruas, no meio das avenidas. Aquele cenário cinza brilhava com o sol, com o azul forte daquele céu. Um contraste alegre no meio de tanta gente colorida. Ali, o teatro era o da vida, o teatro da arte, de gente... Imaginei Deus nessa hora,e na sua posição previlegiada para assistir essa peça.Pensei no horror que vemos na televisão. Filho matando pai, pai matando filha, gente passando fome, e vi que ainda resta esperança e que existe no mundo gente do bem, gente que respira sonhos bons, que canta e que sorri para o lado.É possível através da arte e da democratização da mesma reeducar este mundo que só pede o que vendem os comerciais, os jornais. Ou será que é essa gente que gera a notícia fantasiosa e violenta?Mas voltando ao que é belo, não tive vontade de ir embora.Caetado fez sentido nesse dia...

























































































































































































































quinta-feira, 24 de abril de 2008

Gotas de um futuro bom...

Foto: Karen Facchinetti

Perfis de um lixo noturno.

Foto: Karen Facchinetti

Bobeirices, risos. Brincadeiras em uma noite alegre. A leveza de uma sexta de brisa. Cheiro de frescor. Rimos da nossa vida.
A caminho do ônibus, jovens, pessoas que dividem rumos em mesma direção, objetivos secretos, individualidade.Correndo, identificamos em meio a uma cena desfocada, congelada pelo momento, perfis que o flash paralisa. Acabo de captar duas almas que pedem atenção.
Suas faces sorridentes só traduzem a ingenuidade infantil. A felicidade por nós esquecida. A felicidade de frente a minha lente, ao lado de minha amiga.Tanta felicidade por um momento, um singelo e simples momento que congela a vivacidade daqueles olhares, daqueles corpos que se perdem numa noite que é bonita.
São perfis jogados numa lata de lixo qualquer, varridos do cenário da cidade, esquecidos, transfigurados, desfigurados. Quase não existem.
E tão evidentes são em vida e por suas ferramentas, seu laranja que vibra nessa escuridão. Se não gritassem sua existência, qual a voz os ouviria? Quantos ouvidos se dispõe?
A surdez da alegria individual é perigosa.
Um instante não refaz a história, mas aqui fica o retrato retratado de um relato. Tudo vale quando a alma não é pequena.
E na grandiosidade dessa cena, do sorriso, do pedido, retiro agora dessa lata esquecida e suja pelos preconceitos duas almas. Duas crianças que a sociedade renega. Duas vozes que sim, gritam! ... em alto e bom tom existem.
Esfregam em nossa cara: Estou aqui e este é o meu retrato.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Caminito


Nesta sala eu me encontro em tua vida toda vez que as lembranças me procuram ou que me acho num laço incontestável. Não unidas pelo vício do cotidiano, não pelo contato direto da visita. Às vezes te encontro em pensamentos, às vezes nesta casa.
A luz baixa que compõe estes cenário nos transporta às figuras dessa história. Recostadas sobre o braço do sofá, que poucas vezes nos escutam conversar, eu transponho este quadro reluzente. Figuras viradas ao horizonte, assim ficamos neste momento.Pensamentos compassados seguem e se levam nas viradas desta milonga. Não há outra forma neste mundo de descrever -te em pensamento. E meus pensamentos pulsam nesta dança. Milongas,milongas...


Caminitos que não voltam vó querida.. que se foram nesta estrada e não mudam... São caminhos de contrastes, e este sangue que escorre das feridas eu não posso ao menos me sujar. São estrondos que tuas palavras derramaram, são perdões esquecidos.
Quando toco suas marcas com meus olhos, são marcas sentidas e que justificam o seu texto proferido. Eu me aflijo dessa ardência que não sara.
Eu te encontro num Gardel , que eu quase não te beijo a face amiga, mas te abraço no encontro das batidas .Tão distintos sentimentos em sua existência, tanto amor, tanto rancor te faz viver. Palavras que a alma deixa escapar, arrependimentos.Teu sorriso tem ternura endurecida, teu amor é uma cobrança sem calor, ainda vibra.Diga Adeus a esse caminho de amargura, agarre os passos que seguem a Vida...

Outro dia , não me esqueço, você disse : Quando partir desta para melhor todos os cds de tango serão seus, porque seu gosto é como o meu. Essa é minha lembrança, e assim lembre de mim.


Mas te digo que o calar das tuas veias não motivam a poesia da saudade maior. Mas entendo que a trajédia de um tango é o auge da lembrança que deseja.

Mas te proponho algo maior,vamos caminhar à Buenos Aires, e seguir o caminito colorido. Imagens portenhas desejadas, vinho, drama, VIDA.
Me vejo em suas entradas, o bico que teus negros cabelos apontam, são meus..
A distância física pode esquecer as evidências, mas este DNA marcado estrala a todo instante. Música, tango, milonga. Assim somos família.

Por isso vamos seguir através de mim as frustações que o tempo te deixou,
pois caminito que se foi, é caminito esquecido...
E no dia em que partir, saiba que há muito está em minha lembrança, que este tango é uma trajetória de confissões. Que antes da morte, você sempre foi viva.


quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ando pela rua... meus passos ensurdecem os ouvidos.
Minha sombra é cúmplice de mim.
Pensamentos, textos e poesias. Sei o caminho de cor.

A solitude me acompanha todos os dias.
Faço diálogos constantes entre o sim o não.

Não cansei da minha companhia..
Passo a passo traço retas provaveis, retas...
Quero desviar a atenção desse mundo que eu penso dominar.

Reconheço as cores do meu vestido.
Gosto da estampa que escolhi.
Já não me incomoda se não gostam de verde.
Piso firme demais.

Posso fechar os olhos e seguir a direção.
E se eu virar a próxima rua?
Desejo me perder um instante.Só um instante...
Não ter a provável certeza para não endurecer.

Vejo flores, há um quê de nostalgia. Há um passado nessa longas pegadas
Vejo o mar como devaneio, respeito meus desejos. Devaneio é o que não faço.
Devaneio é não seguir passos que são os meus..

Só não quero sentir o cheiro que a lágrima tem .
Que escorra mas não fique em mim...
Minha liberdade são minhas vontades.

Julguem egoísmo, ou sei lá o que...
Julguem defeito estar no centro das decisões.
Digo que é liberdade caminhar para qualquer lado,
para qualquer rua em busca de qualquer mar.

Enquanto nutro essa sólida certeza, sou o oposto do que querem de mim...
Pecorro becos seguros demais...

Quero me perder no instante da loucura que me traz a ânsia,
Quero seguir curvas, adentrar labirintos, ser o círculo e as voltas que dou..
Ser o cícrculo que sou...
Me achar na próxima esquina e seguir a reta em que vivo..

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Tempos...

Tempo de escolhas. de inverno, de sol.Tempo que eu traço.
Ultrapaso o tempo, pois se não me cuido ele me passa.
O tempo que passa segue.O tempo que fica pena.Se não passa canso.Se vai cedo cresço
Se teima faço pirraça.Se foge me desespero.
Cada um que cuide do tempo.Que o tempo que é meu não é de ninguém.
E há tempos que caminho só,que o tempo do amanhã eu não sei.Só quero agora, instante, o tempo do antes no que sou agora, e o depois que me faz querer.
O exato instante, agora...
Mas faço do tempo o que gosto, que sinta o perfume da vida,
Será que o tempo da morte chega?Será que não há tempo na morte?
Escrevo para que não exista fim.
Eu ultrapasso o tempo... que ele me ultrapassa...
Quanto tempo há no percurso?Qual o tempo do pesar do dia?Qual o instante da felicidade?Qual a hora da minha alegria?
Em que exato momento tudo muda? Silência...
Não o vejo, sinto.. Acho que é melhor sentir...Em que tempo as pessoas amam?Qual o tempo do amor?uma gota, uma chuva ou tempestade?
Tempo de escolhas, arco-íris.
Que a energia do tempo me move.
Fotografo o tempo, nele, paralizo. Atiro, estiro, agonizo.
Ah, eu mato esse tempo. antes que o tempo me mate!

terça-feira, 8 de abril de 2008

A imagem da verdade...

A verdade que sou não vem de mim.Tudo o que vejo reflete, remete, transpõe.O que vejo não é, por que foi e será...A verdade salta das palavras inconscientes no exato momento da concepção divina.Eu sou da onde vim, no exato momento que existi.Dali em diante fragmentos, sombras, marca d água, transparências, sou reflexo de mim.Sou meu convívio, meus amigos, minha família, sou vozes que não reconheço e talvez conheça.Sou o que o outro me proporciona, mas sou o que permito. Sou o que me atrai...Então não sou eu, sozinho no singular mais íntimo.
Sou EU, eu mesmo, VOCÊ...
Somos reflexos do que um dia foi real. Do que um dia nasceu de um instante genuíno em sua plena essência.
E desde quando a verdade se foi, sou imagem. Sou alma manchada no tempo e que permanece marcada, fragmentada e incansável. Caminho ao que sou.E por que se perde tempo em testar o que somos?A verdade é meu sim, e cada um tem um SIM , gritante e que martela. Cada vez caminho mais próximo do que o não me negou. Eu volto...Meus traços são meus riscos. Sou um desenho inacabado que já sabe o que deve ser...A minha verdade é lei, e me cobra .
Estou feliz... sinto que sigo o caminho certo através dos meus erros.Minha imagem se parece comigo...Não me lembro ao certo, mas sinto...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Alquimia de um olhar...

-Humm, que luz é essa que me ofusca os olhos? Tive a impressão de ser uma luz diferente, intensa e cheia de vida. Tinha um tom que se um dia cheguei a ver não era tão presente como naquele momento. Havia uma nitidez ofuscante naquele feixe de luz. Eu podia enxergar tons em cada cor.Acho que foi o efeito de Jorge Vercilo que me fez esquecer a janela do quarto aberta no dia anterior. Depois de registrar meio que inconsciente as poesias do “Himalaia”. – Alquimia é reter as montanhas no o... Eu realmente deixei fluir...
Era um domingo como outro qualquer, um daqueles dias em que e há nada para fazer, mas muito para pensar... eu só conseguia sentir...
Quis localizar o sol pela fresta da janela, não o encontrei. Aquele flash rebateu em mim uma enorme vontade de sair do sono em que me encontrava.Pulei logo da cama,tomei meu banho e ao me trocar e escolhi o vermelho mais vivo para vestir eu nem sabia o porquê.
Sem exitar puxei minha câmera,abri a porta de casa e me deparei com a rua. Parei por um instante ao perceber que minha vista estava embaçada e que via tudo desfocado. Logo passou, e resolvi que naquele momento levaria minha teleobjetiva.
Eu queria enxergar o mundo como ele realmente se mostra. Com todos seus ângulos, perspectivas, profundidade e cores.Compreender todos os tons, cinzas pesados, tristes e nostálgicos.
Avistei um senhor que vestia um preto tão pesado como seu semblante, vestia uma roupa amassada de um relaxo proposital. Talvez eu tivesse uma visão distorcida daquele senhor. Foquei nele minha câmera e disparei.Reparei que uma moça corria para um lugar que não se sabe onde.Tinha muitos livros nas mãos e um ar preocupado. Num instante todos seus livros foram ao chão e com eles todas suas preocupações. Mais uma vez mirei minha câmera, só que na moça com os livros e usei a velocidade mais alta para congelar todo aquele movimento , o instante em que os livros caíram.
Olhei ao meu redor e vi milhares de elementos e pessoas, mas não pude reconhecê-los, abaixei minha máquina. Logo vi uma rosa tão rosa na mão de um rapaz prestes a presentear o seu amor. Aumentei o alcance de minha lente, criei proximidade, então mirei a moça que recebia a flor, ela sorria. Fotografei o amor daquele casal e alegria daquela jovem. Depois daquela cena, saí atirando em tudo o que “enxerga”.
Matei cada instante e os eternizei para que pudesse trazê-los de volta. Algumas paisagens ficaram em mim. As palavras saltavam de meu olhar e voltavam ao mesmo tempo.
Ao fotografar uma rua , uma senhora me disse: - Abaixe mais, pegue mais para lá, assim é que fica bonito. Concordei com um sinal. Escolhi melhor ângulo por mim encontrado, os melhores elementos, foquei o que achava importante... e assim passei todo o dia. Tentando reter o que não podia alcançar.
Fiz a foto de um pôr do sol, de um amarelo quase laranja, suave que aquecia o meu rosto. Quando disparei o obturador foi a suavidade que eternizei. Voltei para casa exausta, mas com um mundo transformado.E num golpe impensado, deixei cair a máquina no chão. A tampa se abriu. Sabia que tudo o que havia fotografado havia se perdido. Triste, deitei com a poesia de Himalaia, mas desta vez não dormi. Tudo que reti através de minha lente não saia de mim...

Perto demais...


Uma taça de amarula para adoçar a noite
Sou aqui, o ímã daquilo que criei
Sem pensar, sem ao menos propositalmente querer, coisas e objetos,
me dizem quem sou e me fazem pensar no que realmente me tornei...
Uma taça de amarula que minha boca pediu,
um dez de copas que a muito tempo não encontrava,
papeis espalhados pela cama. Bagunça que não incomoda. Confirmações de
um passado sem julgamento.
Me deparonesse momento com minha imagem, enquadrada, intacta, atravessando o passado.
Arrebentando através dos sentidos a moldura, porque vivo, também, através do que se congelou.
Sou ontem, serei hoje, gosto da pose...Mais um gole do que já provei...
Há algo que não se pode explicar. Há um gosto, um cheiro de futuro nesse presente....
Fotos que desenhei, sonhos que escrevi, poses que não saem daqui... porque aqui é que eu me encontro...
Perto demais eu cheguei. Minha solidão é minha salvação...
Um batom vinho na cabiceira, tom, que só hoje entendi ser o meu... que só hoje pode ser...
se nesse momento pudesse registrar o que sou ... não haveria mentiras...
Não há física que explique essa energia. porque sou eu nesse espaço com toda minha força.
minhas loucuras vagueam pelos cantos...
Já não espero por palavras, nem espero salvações.
Amarula, copas e vinho... procuro respostas e perguntas que me dêm a direção....
peças que se encaixem, fotografias para reviver...
Passa da 00:00h, estou perto demais dos meus sonhos....
estou perto de Deus... perto demais de mim...
Essa noite é doce o sabor de ser eu...

Do sábado não se sabe...

Outro dia, foi em canção que Vinicius me inspirou. Hoje, num livro, sem coincidências,
algo o destino quis me dizer...
Das vezes que o encontro, me desperta sentimentos que me lembram o amor.
Para mim, a cada encontro, Vinicius se mostra assim, a inspiração da afetividade, do amor total,que silienciosa, num vulcão adormecido, guardo.
É tão certeiro e profundo com suas palavras, numa frase e outra, sempre afetuosas, dando tal importância á vida, á coisinhas que qualquer outro nem notaria, nem comenta.
Ele me encontra. Eu me encontro. E assim, através de palavras, de uma tarde, de um sábado...
Em pleno feriado, sexta-feira calma, me fez pensar. Eu pergunto e me pergunto: O que será amanhã?
Talvez eu fique na janela do meu quarto, olhando o chuviscar de um dia nublado, em pleno
verão. Talvez chuvisque o dia inteiro...
Talvez eu acorde cedo para ver gente, tomar um café na padaria do meu bairro,comer dois pastéis na feira.
Talvez eu nem queira conversar, e durma acordada, introspectiva, e minha irmã se queixe.
Quem sabe eu acorde assim, como agora, sentimental, e resolva abraçar a vida através de
uma fotografia. Fazê-las, refazê-las, reviver e guardá-las, talvez, para sempre...
Talvez eu encontre minhas amigas e falê-mos a nova conversa de sempre. Talvez elas me contem suas decepções sem chorar e daremos risadas, e faremos piadas de coisas desumanas. Talvez não levemos mais a sério o que antes nos era ferida... talvez nem falê-mos, e no silêncio nos abracemos, mesmo sem abraços...
São tantas as hipóteses, tantos começos, tanta energia e vontade.
São versões, inúmeras, de um início para um fim certo, e incerto...
Hedredon, cama,canção, pensamentos,reflexos,reflexões,vira-revira,sentimentos,gotas,gotas... agradecimentos,culpas,desculpas,compreensão, encontro, desencontros, sono, encontros...
Aqui, não há fulga, tudo o que sou vem de encontro com toda a sua força, toda sua essência e verdade.E eu compreendo para quê vim, e compreendo minha carência.
Afinal, o mundo não mudará, as coisas são assim... há sempre peças de um quebra cabeça, não que haja tristeza, vive-se feliz, mas peças de um quebra cabeça são únicas e falta-se.
Sábado viverei com toda a minha força, com a impressão de que não vivi o bastante...
Por enquanto, sexta...
Desse sábado, o fim ainda será o mesmo, dos futuros, talvez, desacostume num abraço, num beijo...
Por enquanto, estou aqui, sentada á mesa com minha mãe e com um pai que a sorte, o destino e o coração me deu. Eles jogam, estão docemente felizes. É genuino o sentimento.
Eu não falo, estou mergulhada em poemas e crônicas. Palavras que me dizem, além do quê leio,irradiam nas percepções deste momento.
Nem uma palavra sobre isso. Estamos os três reunidos em volta da mesa. Eles jogam, eu leio, e crio como que sem querer a crônica de minha observação.
Reconhecemos silenciosamente o amor que é fraterno.Sente-se com toda a força, o perfume que se encontra apenas neste momento...
De amanhã, não sei. De sábado, não se sabe...

Gostaria de enxergar...

Gostaria de enxergar o mundo como ele realmente se mostra. Com todos seus ângulos, perspectivas, profundidade e cores. Compreender todos os tons, cinzas pesados, tristes e nostálgicos.
Enxergar o “real” através do desfoque e parar o movimento. Captar nele o que os segundos não nos deixam entender.
Saio de mim através do olhar. Entro em contato com o externo, transformo o mundo e ao voltar, o Mundo que há dentro de mim. Todos os dias são assim... e mesmo quando as palavras não saem de minha boca, saltam do meu olhar.
Olho para a vida, vejo milhares de elementos e pessoas, reconheço – os , mas enxergo apenas o que há em mim. Então, aumento o alcance de minhas lentes, crio proximidade com tudo o que me toca e com o que me repugna. Eternizo os momentos, as paisagens que se transformam se não o são, em paisagens do meu interior. Quero guardar aquilo que não posso reter, alcançar... Então faço a foto de um pôr do sol,de um amarelo quase laranja, suave que aquece o meu rosto. Quando disparo o obturador é a suavidade que eternizo. Atiro no presente para que se transforme em passado e sendo apenas alma em mim permanece. Posso reviver através de uma cor, sentir o movimento da brisa e o cheiro daquele momento. Posso trazer para perto aquilo que matei e julgava morto.Gosto de compor a minha vida, os meus dias... escolho o melhor ângulo, os melhores elementos. Mas também sei que toda fotografia traz a subjetividade do autor. E isso irá transparecer, não importa em qual proporção.
Como escreveu Mário Quintana, no auto-retrato que me faço,traço a traço... as vezes me pinto nuvem, as vezes me pinto árvore ,às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança...ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - eterna semelhança, o que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco!

Caminhos.

Cada passo é o encontro daquilo que sou, daquilo que acredito.
Enxergo tudo o que me causa proximidade.
Caminho porquê não posso parar
Me busco, pois, preciso ter um sentido...
Minha mente percorre caminhos, além dos que posso pisar...

Meras imagens?

Paisagens são imagens da alma.

Por onde quer que andemos,
encontraremos reflexos de nós mesmos.

Caminhos são escolhas...