Meras Imagens...

Meras Imagens...
Karen Facchinetti

domingo, 1 de junho de 2008

Banalização do ver.

Para muitas pessoas a fotografia é algo comum, que define um ritual familiar de identificação ou mesmo de afirmação. Claro que essas definições existem e são inerentes ao surgimento da foto. Mas também é real que hoje a fotografia passa por um forte processo de banalização que vem crescendo dentro da cultura da imagem e reforçado por aparelhos ideológicos no decorrer dos anos.Claro que é preciso e é até mesmo enriquecedor alimentar interesse pela tecnologia que nos traz formas cada vez mais avançadas de capturar as imagens. O que me intriga é a forma desvairada, frenética e comum de” ver” essas imagens no atual momento.A idéia absurda de que um fotógrafo seja reconhecido pelo equipamento que tem me traz certo incomodo. Talvez para muitos seja um pensamento pequeno e de uma fotógrafa que mal saiu das fraudas. Mas me incomoda muito desvalorização dessa arte. Quando realmente é arte.É como se ter uma máquina digital fosse melhor que ter um equipamento analógico, como se as imagens digitalizadas fossem estupidamente melhores em resolução simplesmente por serem geradas em equipamentos de última geração. Não há aqui crítica alguma sobre esta forma de tecnologia, mesmo porque vem facilitando minha vida profissionalmente, uma forma de adaptação ao mercado também.Mas no meio desse bombardeio de megapixeis, ainda preservo minhas películas. Não abandono meus filmes por nada.Não vou dizer que tenho usado absurdamente como antes, seria uma mentira, mas ainda quero registrar concretamente meus ensaios e testar o conhecimento, o raciocínio e ter a surpresa da revelação. Quero ter o pensamento da iluminação ativa.Outro dia procurando um curso de fotografia me deparei com grades curriculares de desanimar. Entre tantas coisas a se aprender não encontrei o mais importante: Revelação em preto e branco. Como não é possível encontrar tal matéria! Ali, no momento de um entrosamento químico, entre quarto escuro, meia luz e muita paciência é que podia se aprender na raça as escalas do mundo, dos tons...O que eu quero dizer com isso, é que as pessoas vão se utilizando cada vez mais da tecnologia que lhes é enfiada pelas propagandas , achando que têm nas mão os melhores recursos, o que não é verdade e quando as tem não estão preparadas para utilizar com seu rigor e criatividade, achando que não precisam de mais nada e mais ninguém .A questão também não é essa, todo ser humano é capacitado em sua forma de pensar, mas assim como os médicos têm nas mãos ferramentas e conhecimento específico para salvar vidas quando Deus lhe permite, além claro, de um dom, o fotógrafo carrega no olhar, na percepção, na alquimia de registrar o mundo e de captar a luz, conhecimento e ferramentaspara traduzir esse mundo através de uma estética e o mais importante, de um sentir.Quando enquadro uma imagem e disparo o obturador, algo é transformado em mim, algo se transforma de dentro para fora e volta ao meu mundo. Não deixo de sentir o momento, ao contrário, utilizo da lente para como relação do sentir e de existência na sociedade.Mas enxerg o que muitas pessoas estão preocupadas em capturar almas o tempo todo, esquecem de sentir o momento e feito loucas disparam algo que nem sabem o quê. Quando não sabem o que lhes acontece em seu interior, atiram, se não conseguem chorar, atiram, se estão felizes, atiram, mas não sabem definir seus sentimentos....Perdem o exato momento do sentir quando tentam a todo o instante roubar imagens para serem alguém, através do ter, do ter e do ter...Sei que o reflexo da sociedade em que vivemos hoje não aliviaria o mundo da fotografia numa filosofia globalizada em que pensamos ter tudo, na qual aglomeramos quinquilharias de países que nos exploram para nos sentirmos felizes e dignos em nossa existência, porque na verdade somos usados, passados para trás, sem saúde, sem educação e sem direito à informações de formação crítica.Enquanto isso, carregaremos televisões , computadores e máquinas fotográficas na palma de nossas mãos, capturando e atirando no mundo para que ele não nos engula de vez. Não me esqueço nunca de um ex chefe que me dizia, passe todas suas idéias para o papel, depois se utilize do computador. E ele estava e está certo!
Nada substitui o homem e o homem é feito de sentimentos!Máquinas são a nossa extensão.Talvez eu seja romântica demais, mas assim como as palavras trazem sua força, as imagens transparecem o que temos na alma. Me entristece o mau uso delas...

2 comentários:

Zúnica disse...

Sabe, querida, passei a mesma frustração, e ainda passo ás vezes. Mas é inegável o vaor do olhar e do sentir sobre o peso do equipamento. Usar máquinas de trezentos megaixels que fotografam sozinhas tira, sim, emprego de muito fotógrafo bom. Mas a Arte, essa com "a" maiúsculo mesma, não perde em nada pra máquina. É por isso que ainda hoje tanta gente cria com lomografia, com pinhole, com filtros ao invés de photoshop.

A tua arte tem lugar garantido no mundo das pessoas sensíveis. E, por incrível que pareça, elas ainda existem.

A propósito, procure o curso de revelação PB da escola Focus. lá vc vai ter aula com o Enio Leite, um dos maiores fotoquímicos que esse país já viu. A escola fica na Rua Riachuelo, mas não me lembro o número. É atrás da faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Marcelo Fabri disse...

Ai ai ai .... ainda bem que conheço pessoas românticas. Não no sentido piegas da coisa, mas em acreditar em ideais.
Acredito na tecnologia como eficiência no trabalho e nos ideais como eficiência na arte.
Já comentei seu texto pessoalmente, e só vim aqui registrar que adorei.
Beijos
Marcelo