Meras Imagens...

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Karen Facchinetti

domingo, 22 de março de 2009

NAQUELA RODA TÁ FALTANDO ELE - Uma chorosa e tardia homenagem a Miguel Fasanelli


Cheguei àquele lugar tomada de uma alegre surpresa e magia. Ali vivi cenas que a memória não esquecerá. Os caminhos que me levaram aquele templo foram passos de uma energia que nunca saberei explicar. Ao entrar naquela loja fui tomada de um sentimento tão doce, no qual um mundo novo que já me pertencia se apresentava aos meus olhos, ouvidos e coração. Ainda me lembro do primeiro dia em que fui à loja de Instrumentos Contemporânea. Estava acompanhada de um amigo que logo me mostrou a direção de uma sala onde já se podia ouvir o som dos bandolins. Ficamos na porta espiando, admirando. Logo um senhor muito atencioso e simpático nos indicava ao fundo dois lugares para sentar. Meu amigo lhe deu a mão. Achei aquilo bonito. Nunca havia escutado falar de Miguel Fasanelli, nunca havia participado de uma roda de choro. E naquele dia tive a certeza que o que acontecia naquele espaço não mais escaparia de minha vida. Senhores e senhorinhas em sua maioria tocavam e cantavam com a alma. Aquilo era parte de um sonho. Eu podia enxergar isso em seus olhos, havia brilho , havia alma! A partir dali, minha apreciação pela música popular brasileira despertou. Algo adormecido acordava de tal maneira que eu não podia aceitar meu esquecimento. Tomei por família Pixinguinha, Jacó do Bandolim, Cartola e outros mais. Admirei ainda mais aquilo que poucas vezes, mas de forma intensa dividia com minha avó. A partir dali segui naturalmente um caminho de choro e alegria. Nunca conversei com Miguel Fasanelli, ele nunca soube quem sou, mas foi ali, através dele, que encontrei um cantinho para os meus sonhos. Um cantinho para acreditar que este mundo ainda não se perdeu. “NAQUELA RODA ELE JUNTAVA GENTE” em uma só oração, através de um ideal, no qual a música e a cultura estavam disponíveis a todos.

Sinto apenas por este tardio encontro. Antes mesmo de completar a idéia de foto documentar esses chorões, o Sr. Miguel veio a falecer. Soube disso através do meu professor, que foi informado apenas na porta da Contemporânea. Um homem de tanto valor transformou-se num homem de uma nota só.

O choro fica limitado a um público que se reconhece, que se reúne formando pólos culturais a parte do interesse público, isso julgado pela imprensa. Não, não explicarei a sua importância! Ao menos saberia explicar em sua proporção histórica! Não transformarei em santo alguém que foi humano e que em vida fez tanta diferença . Estampar sua ida em capas de Jornais seria a mais pura hipocrisia.

Ainda penso em documentar e divulgar a importância de pessoas como Fasanelli , mas gostaria de dar este presente a quem de fato merecia em vida. Gostaria que a imprensa o tivesse valorizado,valorizado seu ideal de música para todos. Ainda bem que existem ideais, ainda bem que existem almas que se reconhecem, e a esperança de que a roda sempre continua.



De qualquer forma, “NAQUELA RODA TÁ FALTANDO ELE”.