Meras Imagens...

Meras Imagens...
Karen Facchinetti

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Muito bom é ter sonhos para sonhar, melhor ainda é tê-los para serem vividos. Um sonho parte de uma fantasia ingenua e tola. De uma catarse permissiva aquilo que que nossas vontades exigem. O sonho como paixão é furia e tem garra. O sonho vivido com amor é contruído e conquistado. Porém, para ser alcançado o sonho se utiliza dessas duas vertentes para aquilo que chamamos de realização e sucesso. E o memorável final desse encontro entre paralelos não é ser aquilo que esperam de nós e sim aquilo que se espera de si. O meu imenso carinho ao meu amigo Wagner Ribeiro, que concretizou a árdua tarefa de ser aquilo que se é através da literatura.


Júlio Ferraz, uma caixa de pandora sentimental, força para conter os males do mundo com cadeados de rudeza, ceticismo e acidez. Observador enojado do mundo que o rodeia, se auto-exila na solidão intelectual. Um pária, deslocado entre os de sua opção sexual, um medíocre em seu ramo profissional, um fracasso social. Cospe em Donne, ao afirmar – e pôr em prática - que todo homem deve ser uma ilha, isolar-se para não se contaminar com frivolidades e manter o amor pela humanidade. O amor é um castelo de cartas. Deus é uma muleta para os fracos carregada de vergonha e autopiedade. Amigos são parasitas de dor, dando esmolas de atenção para ufanar-se em frente ao espelho e dormir tranquilos. Os pequenos prazeres e realizações do dia a dia, apenas um anestésico para o cheiro da putrefação que sufoca o mundo. A única forma verdadeira de completude no outro está no prazer carnal, na satisfação do próprio gozo. A confiança, que a deposite em um cão vira-latas. Os animais têm o dom da sinceridade de que abdicamos em função de um narcisismo.

Paulatinamente, Júlio se vê numa armadilha criada por sua arrogância e auto-suficiência. Descobre-se, um dia, verdadeiramente apaixonado, e sente a dor da perda. Descobre o cinza da morte, e a secura da solidão. Sente o apelo dos mistérios entre o céu e a terra que não pode compreender sua vã filosofia. Humaniza-se, enfim, mas sem desarmar-se. A busca da redenção sem pedir jamais perdão.

O Ventre de Oxum é um romance filosófico sobre a futilidade e ignorância que tornam a felicidade plástica tão acessível. Um caminho áspero, cinza e espinhoso, com um anti-herói amargo e detestável, que nos escarra a hipocrisia de que nos entorpecemos a fim de esquecer o quanto detestável e amargos somos nós. Um tapa com luva de pelica para despertar. Um gozo masoquista.






















2 comentários:

Vivi Peron disse...

Gostei do texto e da arte. Bela homenagem ao Wagnitto. Parabéns!
Bjs!!!

Casimiro disse...

Já viu o livro que eu to segurando na foto? kkkk