Meras Imagens...

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Karen Facchinetti

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Jorge Vercilo: "Escultor de sua alma". Da errática a mais bela poesia.

Entrevista: Karen Facchinetti


Jorge Vercilo, músico e compositor é a pura expressão da poesia através da música brasileira . Com letras que transcendem uma linguagem comum, dono de um estilo romântico e poético , no qual a essência do próprio autor emerge a cada sílaba e a cada frase. A total entrega em suas criações textuais, nada tem de impensado. Dos sentimentos, Vercillo brinca e constrói um estilo único e altamente metafórico dando vida às palavras. Em entrevista, o cantor e compositor fala um pouco sobre a importância de suas impressões imagéticas como elemento essencial em seu processo criativo.

1 - Sua letras exprimem uma linguagem metafórica muito forte. Da onde vem este gênero tão presente em suas músicas?

Metáfora comanda a minha poética. Realmente ela e o lirismo são as tendências mais presentes. Vêm do lirismo da MPB e do que me interessa em poesia.


2 – Como é Jorge Vercillo no processo de composição de suas letras? Você revisa muito seus textos?

Muito, demais! Estou sempre tocando e as pessoas que presenciam acabam sempre me perguntando por partes que acabo trocando. Dessa errática, vou construindo as letras.

3 – A imagem do mar está impressa visivelmente em suas músicas como algo divino e profundo. Qual sua relação com o mar? O que está imagem projeta em sua vida?

O mar na psicanálise é visto como metáfora do inconsciente. Talvez seja por isso que está tão presente em minhas canções. Além de ter sido o cenário principal da minha infância e adolescência.

4 – Que nível de percepção tinha quando criança em relação às pessoas e ao mundo?

Percepção sensorial como uma criança tem, que não nomeia, mas percebe a energia inerente de cada um. Eu era uma criança muito introvertida e isso com certeza me ajudou a perceber detalhes e nuances do mundo.

5 – Acha que a introspecção é essencial para a criação? Por quê?

Com certeza. Só consigo criar através da abstração e introspecção. E não tem limite quando a gente olha para dentro.

6 – Você acredita que realmente possamos “ser um” num país que reflete conseqüências da desigualdade em mundo aparentemente globalizado? Qual a sua visão desse panorama?


Eu amo o Brasil e o povo brasileiro. Mas sou um ser humano do mundo. Não me defino somente como brasileiro. E acho que se todos nós pensássemos assim nunca haveria guerras.

7 – Quais as pessoas te causaram inspiração para a arte? Como estas pessoas refletiram em suas aspirações?

Caetano, Gil e Michael Jackson sempre mostraram através de seus trabalhos como unir criatividade estando sempre atuais de acordo com o mercado. Isso também é um talento especial. Chico Buarque, como outros gênios da MPB, sempre me trouxeram a densidade e o conteúdo. E Djavan sempre me motivou muito a compor, através de seus improvisos, melodias e imagens inusitadas.

8 – O olhar é uma alquimia que conecta o mundo interior de um indivíduo com o mundo exterior. Foi desse pensamento que surgiu a canção Himalaia?O que ela representa de fato?

Também desse pensamento onde você se refere à frase “Alquimia é reter as montanhas no olhar”. Mas surgiu muito de outras frases também, como “O mundo inteiro está guardado em mim, de Saravejo aos templos de Pequim”. Isso tem a ver com o que falei na pergunta anterior, de se sentir um ser universal.

9 - Podemos perceber fotografias desses mundos exteriorizadas em suas palavras. Como foi Jorge Vercilo como observador?

Procuro sempre ter a minha própria visão. E estou vivendo atualmente uma crise (positiva) por ter visões do mundo tão diferentes das que vejo estereotipadas por certo grupo de pessoas.

10 – Você concorda que a entrega no texto, nas composições sejam o diferencial para atingir a reflexão e a profundidade? O que pensa?

Também. De fato é muito importante, mas no meu trabalho as melodias induzem os versos a ficarem com o peso que têm.

11 – Você acha que um escritor, compositor é um ator que se esconde do palco? Como se relaciona com seus personagens?

Acho que não. Por mais que estejamos baseados na história de outros, ou inventemos sensações e situações, estamos sempre nos visualizando naquele papel. Mesmo que de forma imaginária, em alguns momentos. Em outros, são muitos fragmentos usados de vivências nossas.

12 – Em palavras-chaves, quais palavras imagens marcaram a trajetória de Jorge Vercillo? (cheiro, gosto, objetos, etc).

Tenho uma ligação muito forte com alguns cheiros da natureza que despertam partes da minha memória afetiva, como cheiro de mato e algumas plantas, jasmim, dama da noite. Cheiro de mar e terra molhada, como digo na música “Vôo cego”.

13 – Qual imagem faria do artista Jorge Vercilo neste momento?

Um escultor em busca da estética e do prazer na convivência de diversos estilos diferentes, todos passando por um filtro pessoal.



3 comentários:

Vivi Peron disse...

Gostei Isabel da entrevista, até parece que foi ao vivo.
Parabéns!!
Bjus!!!

Wagner Ribeiro disse...

Olá, querida Karen

Parabéns. Continue trazendo entrevistas com esse nível, não só de questionamento mas também de profissionais.

Um grande beijo do Wagner, um amigo que te ama.

Anônimo disse...

Amei! Muito boa entrevista! Interessantíssima!!! Parabéns
Com certeza o Jorge Vercillo curtiu muito responder a suas perguntas realmente coerentes.
Um abraço